Artigo #02
OS DILEMAS DE UM LÍDER #02 - Como equilibrar resultados e saúde mental?
O equilíbrio entre a busca por resultado e a saúde mental dos membros da sua equipe é algo mais presente em discursos do que em ações concretas de muitos líderes! No novo mundo do trabalho esses dois temas são convergentes e não antagônicos. Como então criar essa convergência a partir seu próprio exemplo? É possível fazê-lo em empresas e com chefes "tóxicos”? Quais mecanismos você pode utilizar a seu favor e dos membros de sua equipe/organização para superar esse dilema? Estes são alguns dos pontos que trato no meu segundo artigo da série: os dilemas de um líder.
Segundo dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em maio de 2020, o Brasil era o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo, com 9,3% dos brasileiros afetados. E é o quinto em casos de depressão, que já atinge 5,8% da população do país. A saúde mental é uma preocupação de 75% dos brasileiros, segundo os resultados da pesquisa World Mental Health Day 2021, realizada pelo instituto de pesquisa Ipsos.
Em junho de 2022, a OMS publicou a sua maior revisão mundial sobre esse tema desde a virada do século. De acordo com o levantamento, quase 1 bilhão de pessoas viviam com transtorno mental em 2019, sendo 14% adolescentes. Pessoas com condições severas morrem em média de 10 a 20 anos mais cedo do que a população em geral, principalmente devido a doenças físicas evitáveis.
Desafios globais como desigualdade social, pandemia de Covid-19, guerra e crise climática são ameaças à saúde global. Segundo esse último estudo da OMS, depressão e a ansiedade aumentaram mais de 25% apenas no primeiro ano da pandemia. Somos seres sociais e ao ficarmos mais isolados fomos impactados diretamente. De forma geral, também aumentamos a nossa consciência sobre uma obviedade muitas vezes esquecida, a vida é finita!
No mundo do trabalho não é diferente. Somos um extrato desse cenário mundial. Você também precisa encontrar formas de se revisitar em busca do seu maior equilíbrio, bem como, dos membros de sua equipe. Muitos líderes já aumentaram a sua consciência de que a busca por resultados com saúde mental não são excludentes, pelo contrário são convergentes. Melhores resultados serão consequência de colaboradores e equipes de trabalho mais equilibradas mentalmente. Trabalhar, habitualmente, de 12 a 14 horas por dia não fará de você um melhor líder. Pelo contrário, irá passar uma mensagem de desequilíbrio e baixa preocupação com o tema.
Esse equilíbrio precisa ser conquistado e existem desafios para que isto ocorra. Mas lembre-se, isto será possível se você lutar, antes de tudo, pela sua saúde mental. Você precisa primeiro colocar a máscara de oxigênio em você. Caso contrário, não será capaz de ajudar os membros de sua equipe que não conseguem fazer isto sozinhos. O seu equilíbrio, corpo, mente e alma irá exigir escolhas que levem a composição de uma nova agenda diária. Adicional a isto, introduza na sua rotina diária válvulas de escape como lazer, esporte, novos hobbies, meditação, entre outros.
Essa agenda não abrirá mão dos resultados que você e a sua empresa precisa alcançar, mas exigirá o desapego a velhos hábitos para que novos sejam incorporados. Será, em um primeiro momento, um exercício de fazer outras escolhas para você e a sua equipe. Que tragam estímulos para a criação de um novo ambiente e rotinas no trabalho. Pode parecer um exemplo bobo, mas trocar 2 a 3 horas de trânsito ou deslocamento por exercícios físicos, convívio com outras pessoas e descanso pode fazer toda a diferença em relação a sua saúde mental. Você se sentirá mais fortalecido para lidar com os membros de sua equipe e demais dilemas da liderança.
O processo de escolhas que levam a convergência entre resultados e saúde mental é ainda mais amplo. Pense que, por exemplo, a decisão de trabalhar para empresas e chefes tóxicos também é sua. Se você não consegue se liberar desse ambiente no curto prazo, planeje a forma de fazê-lo no médio prazo. Hoje, já é possível classificar as organizações em dois grupos. As que adoecem as pessoas e as que curam. Predominantemente ainda temos a maioria das empresas no primeiro grupo, porém cresce de forma considerável o segundo. Regidas por uma mentalidade de um capitalismo mais consciente e de fundamentos de sustentabilidade e ESG essas organizações começam a ser mais desejadas por líderes e membros de equipe.
Por fim, deixo mais duas dicas para você revisitar a sua liderança. Identifique, aproxime-se, conviva e inspire-se em líderes que já conseguem lidar com esse dilema. Hoje, felizmente, já existem bons exemplos de líderes que estão encarrando esse assunto de frente. Que estão conscientes dos desafios relacionados ao tema e compreendem que mais do que um dilema existe aqui uma oportunidade para a sua ação. Para serem protagonistas na criação de um mundo do trabalho melhor e mais saudável para todos.
A última dica é a de reduzir drasticamente a tolerância com o baixo desempenho individual. Para avançar nesse dilema você precisará fazer várias mudanças em pleno voo. Cuide e potencialize a melhor competência em equilíbrio com a saúde mental. Introduza novos hábitos sem deixar o avião cair e administre, inclusive, algumas turbulências. Para isto é necessário distribuir de forma correta e justa as responsabilidades entre os membros do time. Acompanhe e tome decisões quando existir desbalanceamento de performance. A sua equipe precisa ser de alta performance para que todos possam fazer essa jornada de forma mais leve e assertiva.
Quando postergamos decisões difíceis sobre performance, geramos ambientes desequilibrados e não saudáveis!
Como líder, você é fruto de suas próprias escolhas. Quanto mais equilibradas e sustentáveis suas escolhas forem, maior será a sua chance de lidar com esse dilema. Você é responsável pela performance de sua equipe e pela saúde mental de cada membro dela. Somente com essa consciência, você conseguirá melhor lidar e agir com as questões internas e externas relacionados ao equilíbrio entre resultados e a saúde mental.
Resumo das dicas sobre o dilema:
1 - Tenha a certeza de que resultados e saúde mental são convergentes.
2 - Comece cuidando de você! O equilíbrio é possível, pois é você quem faz a sua agenda.
3 - Planeje a sua saída em caso de trabalhar em uma empresa tóxica.
4 - Inspire-se em novas referências de liderança que já conseguem lidar com esse dilema.
5 - Tenha menor tolerância a baixa performance individual para assim criar equipes de alta performance.
Nos vemos nos próximos artigos e dilemas dessa série!
Daniel M. Ely
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