Artigo #09
OS DILEMAS DE UM LÍDER #09 - Como equilibrar o reconhecimento financeiro com o emocional?
Todo líder precisa tentar equilibrar o reconhecimento financeiro e emocional de cada membro de sua equipe, pois ambos são importantes e necessários. Digo tentar, pois não é tarefa fácil fazê-lo e, tampouco, encontrar esse equilíbrio. Para explorar sobre o reconhecimento emocional, convidei Raquel Ely, especialista em neurociências e uma pessoa muito especial para mim para falar sobre as memórias afetivas e aversivas que criam as bases desse mecanismo de retenção ainda pouco explorado por gestores, mas já compreendido e praticado por líderes que estão fazendo a diferença!
Antes, deixe-me reforçar que os tradicionais mecanismos de reconhecimento financeiro (salário, benefícios e outros incentivos) são importantes para qualquer profissional e não devem ser negligenciados. Caso não estejam adequados à entrega e ao desempenho de cada membro da equipe, também surgirão dificuldades de retenção.
Via de regra, somos mais recompensados de forma emocional ou financeira. Então, sempre que essa balança estiver desequilibrada para um lado, ocorrerá a necessidade de uma compensação pelo outro. Porém, nem sempre isso acontece e, ainda assim, essa situação deveria ser temporária e nunca permanente. A falta de um reconhecimento a longo prazo, poderá fazer você perder alguém que não queira pelo caminho. O déficit acentuado no salário emocional, geralmente, é um fator decisivo nesses casos.
Quando alguém ingressa em uma organização, traz consigo inúmeras vivências e sua história pessoal. Lembre-se: todo profissional é, antes disso, um ser humano com sentimentos e emoções que influenciam seu comportamento. Esses fatores devem ser levados em consideração, algo que, por mais óbvio que pareça, não é trivial diante da correria cotidiana. As experiências de cada um dão origem a memórias afetivas e aversivas.
No processo de formação de cada memória, existe um contexto emocional que vai “emoldurando” cada acontecimento vivenciado, ainda que exista uma seleção pelo hipocampo - região cerebral importante para a formação de novas memórias - do que é relevante para ser guardado. Portanto, o que é lembrado, ou não, está intimamente vinculado a essas emoções. Fazendo uma analogia, sem isso é como se nossas memórias fossem um filme sem som e sem legenda.
Por essa razão, o desequilíbrio entre a saúde emocional e financeira não pode se alongar demais, pois esse “colchão” emocional é oriundo de memórias afetivas e nos acompanha desde a infância, a exemplo de quando éramos elogiados e deixávamos nossos pais ou entes queridos orgulhosos por uma boa nota na escola. Entretanto, lá também estão as lembranças de situações difíceis e dolorosas, as memórias aversivas, que desencadeiam sentimentos de rejeição, abandono, insegurança, humilhação e outros.
Dentro de uma organização, nos momentos em que você é valorizado e reconhecido pelas suas entregas, interações com outras pessoas ou desafios, você coloca na sua “conta bancária” emocional um valor a mais. Evoca-se uma memória afetiva, trazendo à tona bons sentimentos. Contudo, toda vez que o contrário acontece, as memórias aversivas são evocadas e reforçadas, aumentando os níveis de ansiedade e de estresse. É como se você fizesse uma "retirada" e, dependendo da intensidade do desconforto que este “gatilho” emocional possa ter gerado, o saldo pode ficar negativo e, assim como num banco, existe um “limite” para cada um de nós.
Dessa forma, tanto o uso do reconhecimento emocional para suprir a falta do reconhecimento financeiro quanto a situação contrária são casos de desequilíbrio que precisam ser endereçados. Trabalhar pelo equilíbrio dessa equação irá exigir um preço ou esforço extra de você, líder. O desafio que se coloca, então, é o de atuar nas duas frentes com a mesma dedicação. Busque conhecer muito bem os membros de sua equipe para identificar como anda cada equação individual. Entenda quais são as expectativas, desejos, propósitos e causas pelas quais cada um está disposto a lutar. Promova desafios e reconhecimentos de forma adequada e contínua.
Não descuide do reconhecimento financeiro, mas tampouco o transforme em sua única alternativa. É preciso olhar para cada um e para nós mesmos com carinho e atenção.
Você saberia dizer como anda o saldo emocional de cada um dos membros de sua equipe hoje?
Resumo das dicas sobre o dilema:
1 - Não negligencie o adequado reconhecimento financeiro a cada membro de sua equipe;
2 - Utilize e intensifique o reconhecimento emocional;
3 - Mantenha o equilíbrio entre o uso de ambos (financeiro + emocional);
4 - Lembre-se: todo profissional é um ser humano com sentimentos e emoções que influenciam seu comportamento;
5 - Crie um “colchão” emocional positivo junto a cada membro de sua equipe;
6 - Atue nas duas frentes com a mesma dedicação.
Daniel M. Ely e Raquel Ely
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