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Artigo #10

OS DILEMAS DE UM LÍDER #10 - Como negociar com os seus vieses cognitivos?

Artigo #10
Liderança Carreira Desafios Gestão Organizações 23.03.2023

Nesse décimo artigo da série vou abordar um dilema presente todos os dias em nossas vidas. Os vieses inconscientes que guiam decisões e ações de forma automática. Que trazem consigo pré-julgamentos e uma falsa sensação de agilidade. Cuidado, pois se você não aprender a identificar os seus vieses cognitivos e negociar, diariamente, com os mesmos você pode estar se tornando refém de suas experiências passadas.

Primeiramente, precisamos entender que todos temos esses vieses e que eles agem no campo cognitivo e do nosso inconsciente. Não irei aprofundar nesse artigo quais são eles, pois demandaria muito tempo e não é esse o meu principal objetivo. Quero apoiar você na compreensão de como eles agem. Se quiseres saber em profundidade quais são eles você pode pesquisar sobre alguns dos vieses mais comuns. Entre eles estão, por exemplo, o viés de confirmação, atribuição, seleção de informação, memória, autoconceito e expectativas de julgamento.

Todos os vieses atuam durante o processo cerebral que utilizamos para avaliar novas situações e tomar decisões. Quando acionamos o nosso repertório cultural e social para dar sentido a situações que vivenciamos. Em um artigo anterior que resume alguns dos resultados de minha pesquisa de mestrado eu descrevo com detalhes como esse processo funciona em nossas cabeças. E destaco uma de suas principais armadilhas, o enlace reflexivo. Clique nesse link se quiseres maiores detalhes sobre esse processo.

Nessa pesquisa em profundidade, fica claro que percebemos o mundo a partir do que somos e já vivenciamos. De nossas crenças atuais. E é nesse momento que os vieses cognitivos atuam. Como uma espécie de filtro que nos leva a simplificar o processo de observação de novas situações. O que gera uma distorção da interpretação de informações e pode nos levar a tomar decisões baseadas em opiniões incompletas ou incorretas. No mundo organizacional, por exemplo, acaba afetando os resultados que são obtidos dessas deliberações.

Percebemos o mundo a partir do que somos e já vivenciamos!

O primeiro passo para você não se tornar refém dos seus vieses é entender que você os tem! No momento seguinte, compreender como eles já impactam e influenciam as suas decisões e comportamentos. Aumentando assim a sua autoconsciência sobre como eles interferem em suas avaliações e decisões no dia-a-dia. Por fim, você precisará desenvolver técnicas para negociar com o poder de cada um deles de distorcer os seus julgamentos. Somente assim você conseguirá tomar as melhores decisões e de forma mais consciente!

Todo esse processo cognitivo ocorre a partir dos estímulos aos quais você esta exposto ao longo do dia. Sempre perante a uma nova situação existe uma experiência concreta de observação que na sequência a mesma passa ao seu campo cognitivo e conceitual. Você, como eu, avaliamos uma mesma situação a partir de nossas vivências passadas e assim adicionamos sentidos oriundos da experiência cultural e social de cada um. Com base nesses sentidos cada um faz o seu pressuposto sobre o que foi observado e tira as suas próprias conclusões. O que para você, por exemplo, o permite a adotar novas crenças e comportamentos pode, no meu caso, não gerar nenhuma mudança.

Nessa etapa de adicionar sentidos e realizar pressupostos é onde os vieses cognitivos e inconscientes tentam aprisionar o líder. Todo esse processo descrito no parágrafo anterior ocorre em milionésimos de segundos. Chris Argyris, um dos principais estudiosos no tema salienta que o real aprendizado, também chamado por ele de ciclo duplo, só ocorre quando os modelos mentais que guiam os comportamentos são alterados pelas próprias respostas que eles provocam. Revisitando assim as suas crenças e valores. Se não for assim, você estará realizando um ciclo simples de aprendizagem. Um processo automático de adotar as mesmas estratégias e ações para resolver antigos e novos problemas. Durante o ciclo simples de aprendizagem é onde os vieses inconscientes e cognitivos, de diferentes naturezas, agem com maior facilidade!

Isto não quer dizer que o ciclo simples de aprendizagem, que leva a repetição de rotinas e frameworks já testados e de sucesso na solução de velhos problemas também não possa ser um bom caminho. Agora, se você quer adotar novas crenças, comportamentos e agir de forma diferente em relação a novas situações e contextos um ciclo duplo de aprendizagem é sempre mais recomendado. Ele por si só já permite a você estar menos propenso, ou refém, de seus próprios vieses cognitivos.

Por fim, lembre que se você não aceitar que possui vieses, não conseguir identificá-los e negociar com os mesmos o seu resultado e de sua equipe podem ser comprometidos. E se mesmo assim você continua confuso, peça feedback de outras pessoas. Isso o ajudará a identificar vieses que você possa ainda não ter reconhecido!

Resumo das dicas sobre o dilema:

1 - Reconheça, primeiramente, que você os tem. A autoconsciência sobre os vieses inconscientes é o primeiro passo para iniciar a negociação cognitiva;

2 - Desenvolva técnicas para negociar com os vieses mais usualmente utilizados por você;

3 - Evite tomar decisões no piloto automático, pois a chance de estar fazendo a partir de vieses cristalizados é maior;

4 - Utilize mais tempo para pensar, pois os vieses são comumente acionados quando tomamos decisões ou tiramos conclusões de forma muito rápida;

5 - Opte sempre por um ciclo duplo de aprendizagem, pois ele necessariamente já lhe permite identificar os seus vieses, bem como, revisitar as suas crenças antes de qualquer ação;

6 - Peça feedback de outras pessoas. Isso o ajuda a identificar vieses que você possa ainda não ter reconhecido.

Daniel Martin Ely

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