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Artigos Daniel M. Ely

CRÔNICAS EXECUTIVAS #02

CRÔNICAS EXECUTIVAS #02 - O Encanto dos Protagonistas Anônimos.

CRÔNICAS EXECUTIVAS #02
Crônicas Liderança Organizações Carreira 21.07.2023

Havia uma pessoa que, desde que a conheci, encantava todos ao seu redor com suas histórias repletas de feitos e realizações. Ela se orgulhava de sua carreira, viagens, conquistas e reconhecimentos, e eu, com olhos brilhantes, apreciava cada uma de suas narrativas durante nossas longas conversas. Suas palavras despertavam em mim uma admiração genuína, tornando-me um aprendiz de feiticeiro na arte de contar histórias inspiradoras sobre a vida.

Com o passar dos anos, esse hábito de contar histórias tornou-se parte intrínseca de minha jornada, estendendo-se inclusive à minha carreira profissional. Conheci diversos personagens, cada um com sua própria história de vida para compartilhar. Aos poucos, percebi padrões se formando, e no mundo organizacional, identifiquei três grupos distintos de protagonistas, cada um com sua peculiaridade.

O primeiro grupo se destacava pelo insuportável uso do pronome "Eu" em suas narrativas. Eram histórias repletas de glamour, como se fossem verdadeiros super-heróis dos quadrinhos. Inspiradoras, sem dúvida, mas havia um certo vazio presente em suas trajetórias. O "Nós" era praticamente ausente, resumindo-se apenas a exemplificações da diferença entre o "Nós" e o "Eles".

O segundo grupo trazia histórias ricas em detalhes, outros personagens e acontecimentos, acrescentando uma profundidade fascinante ao enredo. Eram relatos de superação individual, mas o que as tornava ainda mais belas era a valorização do coletivo, a construção coletiva e a gratidão permeando cada linha. O "Nós" sobressaía em detrimento ao "Eu", e embora o sacrifício pessoal estivesse presente, a ênfase recaía na contribuição coletiva.

Entretanto, o grupo que mais me encantou foi o terceiro. Eles surgiam timidamente, mesmo quando se tornavam o protagonista de uma história. Eram indivíduos com uma necessidade intrínseca de exaltar o coletivo em detrimento de seus próprios méritos individuais. Essas narrativas de altruísmo despertavam em mim um desejo profundo de dedicar-lhes mais tempo de escuta e atenção. Admirava a forma como buscavam não ser reconhecidos por suas contribuições pessoais, resultando em histórias que, ao final, pareciam incompletas.

Talvez, em nossa ânsia por heróis, esqueçamos que os verdadeiros protagonistas podem ser anônimos.

Atualmente, confesso que tenho dificuldade em ouvir os protagonistas do primeiro grupo, pois suas histórias tornaram-se previsíveis. No segundo grupo, aprendi a fazer uma escuta mais seletiva, identificando quais narrativas ressaltavam o "Nós" como mero adereço para destacar ainda mais o "Eu" e quais eram, de fato, encantadoras e inspiradoras no duplo sentido. Quanto ao terceiro grupo, estou aprendendo a me dedicar. Sinto a necessidade de ajudar essas pessoas revestidas de altruísmo a reconhecerem o valor de suas próprias histórias.

Por mais belas que sejam as narrativas dos últimos personagens, é fundamental que suas histórias de vida também sejam grifadas ao longo do texto. Eles são personagens excepcionais e encantadores que merecem ser conhecidos. Sua manifestação do "Eu" no ambiente coletivo é, em essência, a forma mais bonita de expressão humana. E assim, cada grupo de protagonistas deixou sua marca em minha jornada, mostrando que a beleza reside na diversidade de narrativas e na valorização do coletivo e do indivíduo em harmonia.

As histórias anônimas têm o poder de nos encantar e inspirar, mostrando-nos que a grandiosidade pode estar nas sutilezas da generosidade e do altruísmo.

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