CRÔNICAS EXECUTIVAS #03
CRÔNICAS EXECUTIVAS #03 - O Baile das Escolhas: Entre a Sabedoria e o Teatro Organizacional.
No reino do mundo executivo, há um baile incessante de oportunidades e tentações. É uma corte de privilégios onde muitos sucumbem, perdendo-se nas seduções que se escondem por trás das cortinas. Conforme crescemos e ganhamos influência, o baile se intensifica, e cada um de nós é levado por caminhos distintos. Dois destinos se destacam no salão movimentado: um é banhado pela luz da sabedoria, e o outro, mais sombrio, é tomado pelo teatro organizacional. Por vezes, transitamos entre ambos, até que, enfim, encontramos nosso rumo preferido.
O primeiro caminho é o da sabedoria, uma trilha iluminada por almas valorosas. Nele, o cargo e os benefícios da posição não são o destino final, mas sim os meios para fazer o que é correto e fortalecer a mentalidade do coletivo, priorizando-o antes do indivíduo. Embora possam cometer erros em meio a essa dança, são, em sua maioria, assertivos em suas decisões, sobretudo ao enfrentar os dilemas organizacionais e interpessoais. Para esses sábios dançarinos, não importa se a estrutura é vertical ou horizontal, hierárquica ou não-hierárquica, pois suas escolhas são baseadas na compreensão de que o bem coletivo é o que realmente importa, transcendendo as vaidades que envolvem a própria corte.
Por outro lado, há o caminho do teatro organizacional, onde ritos e simbolismos da corte obscurecem os reais fins. Nessa dança de aparências, os papéis são predefinidos e ocupados pelos dançarinos, e a corte se torna o objetivo final, ao invés de ser apenas parte da coreografia. Títulos e honrarias passam a ser mais relevantes do que a capacidade de enxergar o coletivo de forma ampla e cuidadosa. Nesse momento, muitos talentos sucumbem ao enredo ensaiado, surgindo reis, rainhas, súditos, bobos da corte e tantos outros. O reinado perdura enquanto houver uma corte que se curva ao rei ou à rainha. Contudo, quando perdemos os títulos e prestígios concedidos pela corte, compreendemos melhor o significado da expressão: "Rei morto, rei posto", um retrato também da efemeridade da vida organizacional.
Nossa dança nos conduz por diferentes passos até que, finalmente, encontramos o compasso que faz sentido para o nosso propósito.
Muitas vezes, precisamos do apoio externo para enxergar como somos percebidos pelos dançarinos à nossa volta, a fim de compreender qual direção estamos tomando, pois, em meio ao brilho dos holofotes, podemos temporariamente perder de vista nosso verdadeiro eu.
Em seu livro "Reflexões sobre Caráter e Liderança", o psicanalista e professor Manfred Kets de Vries descreve os "personagens" que povoam o mundo organizacional, entre eles, a figura do "bobo sábio". Essa figura, presente ao longo de eras, atua como uma espécie de consciência, uma elegante espada, sempre pronta para desafiar os líderes. Como o bobo sábio da peça "Rei Lear" de Shakespeare, ele desempenha o papel de guardião da realidade, lembrando os dançarinos da efemeridade do poder.
Na corte, o bobo sábio era o único capaz de falar verdades ao rei, mesmo em meio à enxurrada de vaidades. No entanto, sua sabedoria estava em saber como e quando fazê-lo.
Encontrar o(s) bobo(s) sábio(s) no baile da vida é essencial, bem como compreender o salão onde queremos dançar. Conscientes de nossas escolhas, dançamos com propósito e paixão, buscando harmonia entre nossa essência e as melodias que a vida toca para nós. O baile é efêmero, mas nossas escolhas ecoam em cada passo, determinando os destinos que desejamos alcançar.
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